Quando a folha é um abismo branco,
Um mar que nos bate ferozmente.
O silêncio a germinar sílabas.
É também como um grito de guerra vindo de muito longe.
Descobrem-se alturas e profundas grutas,
Despenhadeiros de sentir e pensar.
Algo sempre inconcluso nos atravessa a alma,
Como se o final apetecido apenas um novo início.
Assim somos trespassados pelas nossas próprias flechas do tempo.
E uma dor, e um sorriso.
O indefinido da memória
A querer registar perenemente.
A impossibilidade.
Porque esta arte não constrói estátuas nem monumentos.
Apenas um fio de saliva escorre do primeiro raio de sol.
Oh, tão pouco!...
Mas que fazer?...
A ditadura tépida faz-nos avançar
Num percurso cuja rota é o desconhecido,
Embora certos de que uma verdade possa ser algures anunciada.
Depois, o desalento.
E a escrita é melancólica
E as palavras nunca bastam…
A ágora está repleta de gente atordoada!
Temos que apregoar urgente uma mensagem!
Mas tudo é tão evaporante…
Ponto final.
E não mais sonhos, e não mais devaneios, e não mais futilidades...
Há que saber parar!
Atirar o poema rasgado para o incerto ar,
Não mais escrever, começar a falar!...
A ágora repleta começa a ondular.